segunda-feira, 1 de março de 2010

Varejo Brasileiro, Indicadores e Tendências II - Tendência e Comportamento


Na primeira fase deste texto, comentamos os dados divulgados pelo IBGE e tecemos outros comentários sobre o que isto realmente significa para o varejo Brasileiro, tentando criar a consciência de que o varejo tem sido, nos últimos 4 anos, o grande precursor do PIB Nacional.

Com este quadro comentado na parte I, podemos afirmar que os grandes artífices do crescimento do varejo serão as classes C e D, entrantes recentes no cenário do consumo, mas que representam uma enorme e importantíssima fatia dos gastos das famílias Brasileiras, na verdade a maior parte. Alguns fenômenos interessantes da classe C, alta consumidora não só de alimentos, mas de produtos duráveis, também é o enorme uso de telefones celulares, de viagens com pacotes especialmente desenvolvidos para eles e do crédito fácil (mas ainda caro), especialmente dos cartões de crédito, com produtos também especialmente desenvolvidos para este público.

O varejo, hoje muito mais atento a este fenômeno, se mostra ativo no desenvolvimento de formatos de lojas e modelos de negócios para atender a este público. Empresas construtoras e incorporadoras estão desenvolvendo empreendimentos para este público, os bancos, também atentos, já criam linhas de crédito, especialmente a Caixa Federal, que tem batido recordes na cessão de crédito imobiliário e será seguida pelos outros bancos oficiais e privados. O varejo da construção civil, que teve crescimento de rabo de cavalo em 2009 (-5,9% sobre 2008) deverá recuperar e crescer em 2010, levando com ele o varejo de móveis e eletrodomésticos, que teve crescimento pífio em 2009 (2,1% sobre 2008).

Em termos de consumidores, estes estão mais atentos à qualidade, ao atendimento e ás facilidades de compra, inclusive a eletrônica, de largo crescimento em 2009 e que deverá bater recordes em 2010. Aqui incluímos o uso de celulares para compras, autorizando eletronicamente o débito. Mídias indoor auxiliarão na compra é já é possível interagir eletronicamente com o consumidor em uma gôndola. O varejo de luxo, que caiu em termos de pompa, mas não em circunstância, teve seus templos de luxo melhorados e ampliados, embora a tendência seja a do ser descolado, que utiliza bolsas Luis Vuitton com camisetas Hering. O luxo, um pouco mais democrático, se volta à classe B, com marcas desenvolvendo produtos e formatos de loja especialmente para este público, ávido de parecer sem poder ser, mas feliz com o mimetismo possível. Aspiração igual está na aquisição de veículos, novos, semi-novos e usados, que ajudarão no congestionamento das grandes e nem tão grandes cidades, enquanto o governo, que eventualmente desgoverna, desinveste no setor de transporte público e sistemas viários, mesmo em pré temporada de Copa do Mundo e uma Olimpíada Carioca, que ameaçam fazer o varejo crescer, a renda aumentar, o dinheiro fluir e os preços crescerem como orelha de burro. Este comportamento de compra, que permeia camadas sociais que, jamais na história deste país (e o criador desta frase tem menos culpa por isto do que alardeia por aí), puderam comprar nada além de comida (e pouca comida), hoje dá aos integrantes das classes C e D, o consumo de produtos ainda considerados acima de suas posses, auxiliados pelo crédito, que ameaça romper a barreira dos 50% do PIB em 2010, ao menos no fim dele. Mas mesmo assim o calote, antes crescente, decresce em todos os tipos de crédito, mesmo com o fabuloso número de R$ 1,4 trilhões de reais em crédito em 2009. As taxas de juros, baixas historicamente, mas altíssimas comparativamente com outras nações igualmente em desenvolvimento, voltam a crescer em Janeiro de 2010, impulsionadas pelo comunicado do BACEN sobre o depósito compulsório e pela muito provável elevação da taxa Selic em Abril, ao redor de 0,25 pontos percentuais, mas ainda sem afetar o consumo, que busca e buscará prestações que caibam no bolso.

Em resumo, teremos o consumo das famílias novamente puxando o PIB Brasileiro, emprego e renda relativamente em expansão, crédito abundante para pessoa física, mas juros em crescimento, e uma tendência de exigir qualidade, atendimento, serviços e algum tipo de luxo, por todas as classes sociais, nos levarão, ao fim de 2010, a comemorar números preciosos para a economia e varejo, mesmo em tempo de eleição e alguma incerteza política. Resta-nos saber se teremos, também, investimento no varejo da educação (pública), coisa que implica, no longo prazo, em sólido e sustentável crescimento econômico.

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